Em mais uma pesquisa de caráter qualitativo com eleitores de Jair Bolsonaro de renda média (faixas C e D de rendimentos, residentes na Região Metropolitana de São Paulo), que foi levada a cabo entre os dias 9 e 18 de maio de 2020, Esther Solano e Camila Rocha mapearam as principais narrativas relacionadas às diferentes avaliações do presidente Jair Bolsonaro e constataram que narrativas bolsonaristas sobre o Coronavírus: a idéia da COVID-19 ser uma “gripezinha” não convence nem mesmo os bolsonaristas mais fiéis.
Os entrevistados têm medo da doença, mas têm igualmente medo do desemprego. A dicotomia bolsonarista saúde/economia venceu em termos retóricos. As pessoas gostariam de manter o isolamento, mas pensam que este é inviável para o pobre. Os entrevistados não conseguem avançar em argumentos para além desta equação sem aparente solução, que seria salvar vidas ou salvar a economia.
Os votantes de Bolsonaro que hoje se dizem arrependidos argumentam três questões principais: 1) a irresponsabilidade de Bolsonaro com a população na pandemia e sua desumanidade debochando dos mortos, 2) seu estilo agressivo e provocativo de governar que cria caos e instabilidade, 3) sua conduta perante seus filhos, considerados inexperientes, insensatos e possivelmente corruptos.
Porém, os ex-votantes, desiludidos e frustrados, dizem que poderiam votar em Bolsonaro de novo em 2022. Desta vez, não por esperança ou desejo de mudança, como afirmam ter feito em 2018, senão por não enxergar nenhuma alternativa política ou eleitoral.