O Escritório da CEPAL no Brasil, o DIEESE e a FES-Brasil, realizaram no dia 9 de setembro evento de lançamento do relatório “O Big Push para a Sustentabilidade e a dinâmica do emprego, trabalho e renda: o trabalho no contexto da transformação social e ecológica da economia brasileira”
O Escritório no Brasil da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e a Representação no Brasil da Fundação Friedrich Ebert (FES) realizaram, de forma virtual, evento de lançamento do relatório “O Big Push para a Sustentabilidade e a dinâmica do emprego, trabalho e renda: o trabalho no contexto da transformação social e ecológica da economia brasileira”, no dia 9 de setembro de 2021.
Com a mediação do Professor André Roncaglia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o evento teve um formato de bate-papo dividido em dois blocos. O Bloco I trouxe as visões e reflexões de líderes de entidades trabalhistas e que atuam no mundo do trabalho, com a participação de: Senador Jaques Wagner (Presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado do Brasil), Sergio Nobre (Presidente da Central Única de Trabalhadores – CUT), Carmen Foro (Secretária Geral da CUT) e Ana Toni (Diretora Executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), com comentários de Patricia Pelatieri (Diretora Técnica Adjunta, DIEESE), Carlos Mussi (Diretor do Escritório da CEPAL no Brasil) e Christoph Heuser (Representante da FES no Brasil).
O Bloco II trouxe as vozes das trabalhadoras e trabalhadores, com relatos e depoimentos de experiências de atores diretamente envolvidos nos estudos de casos entrevistados para produção da publicação, que incluíram: Felisbela Maria Costa Santos (Agricultora e Assentada), Suelen Ramos (Presidente da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Manaus e representante do Movimento Nacional de Catadores), Júlio Valério (Agricultor) e Daniela Proner Canale (Chefe de Montagem em Campo de Turbinas Eólicas da WEG) e contou com comentários de Gonzalo Berrón (FES), Camila Gramkow (CEPAL) e Nelson Karam (DIEESE).
O relatório lançado é fruto de uma cooperação técnica entre a CEPAL, o DIEESE e a FES para entender os impactos dos investimentos sustentáveis (ou “verdes”) sobre a dinâmica dos empregos no Brasil.
A partir da realização de entrevistas com atores ligados a investimentos selecionados em diversas áreas (indústria eólica, cisternas, reciclagem, assentamentos sustentáveis na Amazônia, entre outras), seguida de discussões com especialistas e lideranças sindicais, ambientalistas, de sustentabilidade, etc. em uma oficina virtual, produziu-se o relatório final do projeto.
O objetivo do evento foi lançar o relatório final do projeto, intitulado: “O Big Push para a Sustentabilidade e a dinâmica do emprego, trabalho e renda: o trabalho no contexto da transformação social e ecológica da economia brasileira”, e promover a discussão sobre a relevância da geração de trabalho de qualidade no contexto de uma recuperação transformadora com sustentabilidade e igualdade para o Brasil.
Segundo Jaques Wagner, “a síntese do Big Push [para a Sustentabilidade], que chamo de sustentabilidade tripartite [social, ambiental e econômica], talvez seja a forma mais lúcida e mais inteligível de saber para onde devemos caminhar. O relatório que está sendo apresentado hoje, fruto do trabalho das três entidades [CEPAL, DIEESE e FES] - um trabalho longo e coletivo, faz aquilo que considero mais importante: beber na fonte de quem vive o problema para tentar elaborar soluções para o problema.”
Para Ana Toni, “no final das contas, [quando discutimos] modelos ambientais e climáticos [estamos discutindo] que modelo de desenvolvimento a gente quer. É uma escolha nacional e global. No caso do Brasil, dois terços das nossas emissões vêm do uso da terra, de desmatamento ilegal, que não gera empregos decentes. Quem está se beneficiando de um modelo de desenvolvimento baseado em ilegalidade, em grilagem, no uso desigual da terra e da água? Então temos de nos perguntar qual é o modelo de desenvolvimento que a gente quer e precisa.”
Conforme Sergio Nobre, “um dos grandes desafios do Brasil é a reindustrialização. Nenhum país alcançou um grau relevante de desenvolvimento sem ter uma base industrial forte e inovadora. O debate no movimento sindical não é ter uma indústria velha, focada em produtos de baixa tecnologia, que prejudique a saúde dos trabalhadores e que polua o meio ambiente. Queremos outra indústria: inovadora, com alto grau de tecnologia, que preserve o meio ambiente, que não polui.”
Segundo Carmen Foro, “esse debate [sobre sustentabilidade e empregos] é central se nós queremos pensar em um processo de transformação e na garantia de nossas vidas. (...) Parabenizo esse relatório lançado hoje, que é resultado de um esforço coletivo. O processo de desenvolvimento sem geração de oportunidade de trabalho e de emprego com qualidade chegou ao fim. É preciso ter mudança de atitude, comprometimento político e investimento para que possamos pensar outro modelo de desenvolvimento.”
Patricia Pelatieri destacou três pontos principais sobre o relatório. Primeiro, a sustentabilidade não é incompatível com o crescimento econômico. Os investimentos sustentáveis, independentemente de seu tamanho ou de sua abrangência, têm um impacto na melhoria das condições de vida e, na maior parte, na renda das famílias. Entretanto, para a geração de empregos de qualidade, é necessário ter uma intencionalidade, ou seja, não é espontâneo. Por fim, não há desenvolvimento sustentável sem a presença do Estado, sem planejamento de longo prazo e sem a coordenação dos investimentos.
Carlos Mussi enfatizou que a CEPAL tem pensado o Grande Impulso para a Sustentabilidade para apoiar os países latino-americanos e caribenhos, considerando suas diversas realidades, na construção dos estilos de desenvolvimento que cada país deseja construir. Tradicionalmente, essa discussão passava por estrutura produtiva, estrutura da demanda ou papel do Estado, mas hoje em dia esse debate é muito mais amplo e passa necessariamente pela sustentabilidade em seus três pilares: ambiental, social e econômico.
Christoph Heuser sublinhou que a FES tem trabalhado no Brasil, na região e no mundo com o projeto da transformação social e ecológica da economia, que busca discutir como mudar, entender e reentender o sistema econômico (conceito, valor, crescimento e sustentabilidade) nesse contexto.
Os participantes do Bloco II destacaram suas experiências cotidianas trabalhando e atuando com investimentos sustentáveis.
Felisbela Maria Costa relatou sua experiência com o Projeto Assentamentos Sustentáveis (PAS), liderado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e parceiros, que atuou em territórios rurais ocupados pela agricultura familiar buscando melhorar a produtividade e a geração de renda sem promover a derrubada da floresta. Segundo Felisbela, o PAS ajudou muito as agricultoras e os agricultores na região da Rodovia Transamazônica (BR230). Ela relatou que os produtores da região não contavam com muita experiência, assistência técnica ou apoio. Mas, com a chegada do PAS, houve muito investimento nos agricultores, em assistência técnica e extensão rural e apoio em geral, o que contribuiu não apenas para trabalhar a lavoura sem queimadas e com menos agrotóxicos, mas também para geração de emprego e renda e recuperação da floresta.
Suelen Ramos fez um depoimento sobre sua atuação com o Programa Dê a Mão para o Futuro (DAMF), um programa liderado pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) para recuperar embalagens pós-consumo e promover a correspondente destinação final ambientalmente adequada para reciclagem, fundada em parcerias com cooperativas de catadoras e catadores de materiais recicláveis. Suelen relata que o Programa trouxe investimentos importantes para as catadoras e catadores, por exemplo, em caminhão, em galpões e em equipamentos triagem. Também contribuiu para uma maior formalização da atuação da cooperativa e para jornadas decentes de trabalho dos associados. Segundo Suelen, antes do Programa, cada catador tinha uma renda semanal entre R$100 e R$150. Hoje em dia, cada catador consegue receber semanalmente entre R$400 e R$450.
Júlio Valério compartilhou sua experiência com o Programa Cisternas, política pública instituída por meio da Lei nº 12.873/2013 que promove o acesso à água para consumo humano e para a produção de alimentos em localidades com escassez hídrica. A família de Júlio foi uma das primeiras beneficiárias do acesso a uma cisterna, em 2003, no Rio Grande do Norte. Ele também foi técnico de campo, atuando na construção de cisternas, quando essas se tornaram um programa do governo federal. Segundo Júlio, o Nordeste pode ser dividido em duas etapas: o Nordeste antes do Programa Cisternas, caracterizado pelo esquecimento por parte do poder público e que apresentava grandes dificuldades para se viver; e o Nordeste após as cisternas, que trouxe dignidade, esperança e uma perspectiva de futuro com qualidade de vida.
Daniela Proner Canale trouxe um relato sobre sua atuação na WEG, indústria nacional que teve importante papel no rápido desenvolvimento nacional da indústria eólica, setor que emprega mais de 250 mil pessoas no Brasil. Daniela trabalha há mais de 10 anos na indústria eólica e, como Chefe de Montagem da WEG, percorre diversas regiões do país para instalação dos parques eólicos. Ela relata as grandes transformações que ela pôde observar nessa trajetória, seja na indústria nacional em si, que conseguiu desenvolver capacidade de produção dos grandes componentes do setor, seja nas localidades onde os parques são instalados, trazendo novas carreiras profissionais, geração de trabalho e renda formal e dinamizando as economias locais.
O evento foi gravado e todas as contribuições e depoimentos podem ser acessados em:
https://www.youtube.com/watch?v=GBK1eFjw-Jg&t=1405s
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