30.04.2021

Os primeiros 100 dias

Um novo começo? O Governo Biden e a América Latina

O governo Biden está ligado à expectativa de que a política externa dos EUA mude não apenas de tom, mas também em termos de ações e políticas concretas. Por esta razão, a FES-Latina reuniu os principais especialistas em relações latino-americanas com os Estados Unidos para fazer uma análise da política externa do governo de Joe Biden em relação aos países da região.   

Qual é a estratégia de política externa da nova administração para a América Latina? Que mudanças e continuidades são esperadas? O que tudo isso implica para os países da região e quais são as áreas que poderiam fazer parte de uma agenda comum?  

 >> Leia o artigo de Cristina Sorenau Pecequilo sobre as relações bilaterais Brasil-EUA, aqui.

>> Acesse e leia as análises dos demais países latino-americanos, aqui. 
 
Claramente, há uma mudança significativa no tom da política externa do governo de Joe Biden em comparação com a retórica de confronto e de negação de seu predecessor, Donald Trump. Nas palavras do Presidente Biden, os Estados Unidos buscarão liderar o mundo por meio de sua diplomacia e de um compromisso renovado com o multilateralismo - em resumo: "A América está de volta". O retorno ao Acordo de Paris como reflexo do compromisso com a luta contra a emergência climática, a proposta de um imposto mínimo global sobre as multinacionais e as reformas nas políticas de imigração são alguns sinais claros de mudanças substanciais na política dos EUA. 

Dada a assimetria nas relações entre os Estados Unidos e os países latino-americanos, que têm oscilado continuamente entre proximidade e animosidade; mas ao mesmo tempo, considerando a alta importância desta potência mundial para a região, esta mudança de governo é especialmente relevante devido à ruptura que ela implica com relação à estratégia de política internacional do governo anterior. 

No entanto, é provável que a América Latina permaneça relativamente sem importância na política externa dos EUA. Durante muito tempo a região foi considerada o quintal dos Estados Unidos, e questões como migração ou política de drogas continuam a ser de grande importância, e embora não seja mais o primeiro parceiro comercial de vários países, seu papel econômico ainda é fundamental para a região. Nos últimos anos, no entanto, a política externa dos EUA tem se concentrado cada vez mais em outras regiões. Como consequência desta relativa ausência e outros aspectos importantes, a China ganhou uma presença cada vez mais notória na região. 

A integração regional latino-americana é agora mais importante do que nunca, dados os muitos desafios internacionais em um mundo multipolar. Mas apesar da criação de várias organizações de integração regional, há agora mais desintegração e um processo de esvaziamento regional. Assim, os países latino-americanos não terão muito poder para enfrentar os poderosos interesses dos Estados Unidos e da China

Em tempos de transição de poder dos Estados Unidos e outras potências ocidentais para a Ásia e particularmente para a China, em meio à profunda crise econômica e social global causada pela pandemia, e em um contexto de crise crescente da democracia representativa em nível internacional, abre-se uma janela de oportunidade para repensar as relações dos países latino-americanos com os Estados Unidos. 

Desafios atuais como a vacinação massiva da população latino-americana; reativação econômica com critérios de sustentabilidade ambiental e justiça social, em um contexto de altos índices de informalidade e pobreza; desafios relacionados aos direitos humanos, migração, necessidade de maior conectividade digital; o desmatamento da Amazônia e a crise climática; o tráfico de drogas e a política de drogas; a crise venezuelana e a resolução ainda pendente do conflito colombiano. Estas são apenas algumas das questões que poderiam servir de base para a construção de uma nova agenda comum entre a América Latina e os Estados Unidos. 

Esperamos que as análises produzidas pela #FESLatina, assinadas por destacados especialistas de seus respectivos países, ajudem a identificar interesses comuns, tanto entre os diferentes países latino-americanos analisados, como entre a região como um todo e os Estados Unidos. O objetivo é gerar maior clareza sobre o que poderia ser a base para promover uma agenda latino-americana compartilhada que permitisse uma maior integração regional e, por sua vez, um modelo de cooperação com os Estados Unidos mutuamente benéfico. 
 

 >> Leia o artigo de Cristina Sorenau Pecequilo sobre as relações bilaterais Brasil-EUA, aqui.

>> Acesse e leia as análises dos demais países latino-americanos, aqui. 

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