28.07.2025

Três olhares sobre o Acordo Mercosul–União Europeia

Série de análises examina o Acordo Mercosul–UE, destacando impactos e alertando para riscos de uma inserção subordinada do bloco no comércio global.

Em dezembro de 2024, após mais de duas décadas de negociações e em um contexto internacional marcado por crescentes tensões geopolíticas, o Mercosul e a União Europeia anunciaram o fechamento político do acordo de associação. Na definição de política internacional da União Europeia, um “acordo de associação” implica compromissos em diálogo político e cooperação. No entanto, o centro da negociação foi o aspecto comercial.

Do lado do MERCOSUL, ouvem-se vozes oficiais em defesa do acordo, destacando a importância de reafirmar o bloco regional como um espaço dinâmico nas negociações comerciais internacionais. Já do lado europeu, destaca-se a relevância de um acordo que permita acesso a um mercado importante e atrativo por sua disponibilidade de matérias-primas e energia — insumos fundamentais para a autonomia estratégica. Ao mesmo tempo, diversas vozes críticas do sindicalismo e da sociedade civil de ambas as regiões alertam para a persistente assimetria do acordo.

No que se refere ao comércio de bens, o conteúdo do acordo é idêntico ao de 2019, com exceção de algumas inovações no setor automotivo e de novos compromissos em compras públicas, “comércio e desenvolvimento sustentável” e transição energética.

Apesar das declarações públicas, audiências e reuniões oficiais, os poucos diálogos convocados com a sociedade civil (por enquanto, apenas do lado europeu) não foram acompanhados de estudos de impacto oficiais que indiquem as implicações do acordo nas duas regiões. Com o objetivo de contribuir com o debate público, a Fundação Friedrich Ebert apresenta uma série de três documentos analíticos que abordam suas diferentes dimensões sob perspectivas econômicas, geopolíticas e institucionais.

No artigo“O Acordo de Associação entre Mercosul e União Europeia: dilemas e perspectivas diante da encruzilhada global”, Damián Rodríguez e Bruno Theodoro Luciano analisam as implicações geopolíticas do acordo no contexto da reconfiguração da ordem internacional. A partir de uma visão crítica, os autores exploram como a noção de “autonomia estratégica” é abordada em ambas as regiões e discutem os dilemas enfrentados pela América do Sul ao buscar inserção nas cadeias globais de valor sem abrir mão da capacidade de formular políticas públicas de desenvolvimento.

Já em "Reflexões sobre os impactos do acordo Mercosul–União Europeia”, Marta Castilho, Kethelyn Ferreira e João Braga examinam em profundidade os efeitos comerciais, industriais e ambientais do acordo, alertando para seus impactos assimétricos e riscos ao desenvolvimento produtivo do Mercosul. O texto destaca que, apesar das melhorias recentes em pontos sensíveis — como a indústria automotiva e as compras governamentais —, o acordo consolida uma inserção subordinada da região como exportadora de matérias-primas de baixo valor agregado.

Por fim, o texto de Julieta Zelicovich, “O Mercosul diante do acordo Mercosul–União Europeia”, apresenta uma análise a partir da perspectiva da integração regional. Avalia os efeitos do acordo sobre a coesão, a densidade institucional e a capacidade de negociação conjunta do Mercosul. Embora identifique impactos positivos em termos de reputação externa e de agenda institucional, também alerta para riscos significativos ao comércio intrarregional e à capacidade do bloco de atuar como uma plataforma comum.

Essa série de análises busca enriquecer o debate público sobre um dos acordos mais ambiciosos — e controversos — assinados pelo Mercosul. A partir de uma visão plural, crítica e rigorosa, os textos constituem uma contribuição aos debates atuais sobre os rumos da integração regional, da política comercial e dos desafios para um desenvolvimento mais profundo do nosso bloco.